sábado, 30 de maio de 2015

Qual o rumo da nossa educação?

Educamos para os valores, para o sucesso, para o fracasso ou para a competição?
Aproxima-se o final do ano lectivo e é hora de reflectir sobre quem são os alunos de hoje, de que forma entendem a escola, de que forma trabalham e procuram aprender, o que os motiva, e que atitudes nós (família, amigos, escola, sociedade) temos que contribuem para a educação das nossas crianças e dos nossos jovens.
Falemos sobre quem são as crianças de hoje e os alunos mais frequentes nas nossas escolas. P
odemos falar de alunos estáveis, instáveis, de inibidos e internalizados ou externalizados, bem como de alunos motivados, desmotivados e dependentes…
Os alunos estáveis e motivados são alunos que demonstram gosto e interesse pela aprendizagem, adaptando-se com facilidade a qualquer tipo de actividade. São perfeccionistas, bem-dispostos e com perfil de liderança. Adaptam-se com facilidade a aulas expositivas, interactivas ou mesmo em aulas em que lhe é atribuída maior liberdade e responsabilidade no processo de aprendizagem. São alunos com capacidade para se automotivarem e que apresentam bom desempenho escolar.
Os alunos motivados mas internalizados e inibidos, são alunos que gostam de passar discretos, não perturbam nem participam na aula. Lidam bem com aulas de carácter expositivo e tendem a ter resultados medianos/suficientes. São crianças ou jovens com características de timidez e depressão.
Os alunos desmotivados, internalizados e inibidos também são alunos com características de timidez e depressão, que gostam de passar discretos, não participam nem perturbam a aula, e que preferem aulas de carácter expositivo. Ao nível dos resultados escolares tendem a apresentar resultados baixos a suficientes para passar de ano.
Os alunos instáveis revelam oscilações ao nível do seu desempenho tendo em conta que nem sempre estão atentos nas aulas e a sua motivação varia em função do professor, matéria, ou mesmo devido a situações externas à escola. Estes alunos preferem aulas interactivas e reagem mal a métodos de ensino monótonos. Têm dificuldade em lidar com as regras e ao nível do comportamento tendem a ser agitados e a manifestar grande labilidade emocional.
Os alunos externalizados preferem sentar-se no fundo da sala e ter actividades mais dinâmicas ou desportivas, reagindo negativamente perante as aulas expositivas. A principal diferença entre os instáveis e os externalizados relaciona-se com a forma como lidam com os conflitos, sendo que os instáveis tendem a ficar tristes ou magoados perante uma situação de conflito, enquanto os externalizados tendem a passar ao ato.
Os alunos dependentes revelam falta de iniciativa e vontade própria necessitando de um volume de ajuda e incentivo maior que o esperado, mas reagem positivamente a esse apoio.
Os sentimentos pessoais e os comportamentos que se manifestam na escola e perante a escola são fundamentais na determinação do sucesso ou insucesso educativo. Neste sentido, é preocupante o aumento dos alunos desmotivados, que não revelam iniciativa, capacidade de automotivação e que apresentam alguma dificuldade em reagir positivamente às estratégias de ensino. São alunos que não valorizam a escola, os professores/educadores, e que apresentam alguma resistência à escola pois consideram que “não vale a pena”, “não tem importância”, “não serve para nada”. São alunos que vão passando “à rasca” ou mesmo com algumas a várias retenções e que revelam não ter objectivos nem interesses claros.
Importa perceber que nós temos vindo a desvalorizar o papel do professor e da escola deixando os jovens sem rumo. Ao lhes retirarmos a confiança no sistema de ensino, retiramos a confiança no seu futuro, na crença de que o seu trabalho dará frutos, na crença de que vale a pena o esforço, o empenho e que vale a pena tentar melhorar.

Será que ainda podemos devolver um sentido à vida destes jovens?

terça-feira, 26 de maio de 2015

Como eu era… e como eu sou…

Vivemos amarrados a um ideal de beleza que nos turva a visão e condiciona a forma de interpretar o que nos rodeia. Novos e velhos premeiam o aspecto jovem e magro… como se a beleza se resumisse a essas duas categorias.
“Quando eu era nova é que era linda”
“Quando eu era novo, ninguém me apanhava”
A nossa linguagem reflecte o nosso preconceito em que só o novo e jovem é belo, digno de registo e de admiração, enquanto envelhecer é uma ofensa.

Procuramos tinta para os cabelos brancos, cremes e tratamentos anti-rugas, aceitamos todos os tratamentos e intervenções preventivas e remediativas que nos ajudem a alcançar a juventude eterna na terra em que todos querem parecer ter menos idade do que a que efectivamente têm…. Até já existe um conceito… Ageless… a mulher sem idade…

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O que se passa com os nossos jovens?

Vemos agressões gratuitas de um grupo contra um jovem; tomamos conhecimento que um jovem apareceu morto por espancamento, provavelmente por outros jovens; assistimos a vídeos de violência entre pares em que há quem capte as imagens mas ninguém se opõe às agressões…
O que se passa com os nossos jovens?
Não têm sentimentos? Não têm empatia pelo próximo? Não sabem a diferença entre o certo e o errado? Não percebem o que é a liberdade e quais os seus limites? Não sabem estar em sociedade? Não sabem estabelecer relações de amizade e de confiança?...
Afinal o que é que andamos a transmitir aos mais novos?
Que valores transmite esta sociedade?
Os pais não têm tempo porque andam muito atarefados a arranjar dinheiro para questões imediatas às quais não conseguem fazer face ou a amealhá-lo para garantir um futuro melhor.
Vizinhos? Família alargada? Onde anda?
A Escola, através dos professores, educadores, animadores, auxiliares… ? Tem os currículos a cumprir, metas a alcançar e claro que contempla a cidadania… mais uma cadeira teórica para tentar transmitir o que só se aprende vivendo.
Os colegas? Não há tempo para brincar, para conversar, para ser criança, adolescente ou jovem… vão guerreando pela lei do mais forte em que tudo se ensina e se aprende sem filtro.
Fico horrorizada perante o que aconteceu a estes jovens agredidos e expostos publicamente a tamanhas ofensas e humilhações. Mas fico igualmente revoltada porque aqueles a quem apontamos o dedo por serem os agressores provavelmente não tiveram ninguém suficientemente significativo que lhes desse a atenção devida na altura certa, que os valorizasse e os soubesse repreender sempre que necessário, que os educasse!

Até quando fazemos como a avestruz? Até quando nos demitimos enquanto educadores?

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Falar com um doente de Alzheimer: se não se lembra porque pergunto?

No nosso dia-a-dia as conversas fluem sem que tenhamos que nos preocupar, de forma significativa, com o que estamos a dizer, se a outra pessoa entende, se se lembra do que estamos a falar, se se lembra de nós… enfim… mas quando interagimos com alguém que sabemos ser portador de alzheimer a nossa atitude, o que dizemos e a forma como o dizemos tende a mudar.
Será isto bom?
Porque o fazemos?
A verdade é que, após o diagnóstico, parece que no discurso de cada pessoa que interage com o portador da doença de alzheimer se procura a confirmação de que o diagnóstico está correto e todos nós nos centramos no problema… lembra-se?... Não se lembra? … E a multiplicidade de interações que até então era possível estabelecer, de um momento para o outro passa a focalizar-se em exercícios de memória (para além dos que a estimulação cognitiva já pressupõe) e deixamos de “ver” a pessoa para procurar o seu “baú das memórias”.
Estamos inseguros. Temos medo do que podemos encontrar naquele momento e n
o que iremos encontrar no futuro. Não sabemos como agir. Centramo-nos no problema e não conseguimos rever aquela pessoa como ela sempre foi… agora já não é só a Maria… é a Maria que tem Alzheimer… sempre e para sempre.
Ao centrarmos o nosso discurso num interrogatório sem fim sobre se se lembra de alguém, de algo, ou de alguma situação, estamos a confrontar a pessoa constantemente com a sua dificuldade, a acentuar a sua desorientação porque acabamos por referir coisas de que efetivamente não se lembra, e a provocar constrangimento, frustração e raiva.
É importante dar um ambiente calmo, tranquilo, acolhedor, que não confronta a pessoa com a sua própria desorientação, para que possam manter alguma estabilidade emocional e aproveitar as relações afetivas significativas de forma prazerosa para todos.
Não devemos estar sempre a perguntar se se lembra de algo específico, procure antes partilhar as suas memórias com ele ou com ela. Desta forma está a estimular a memória da pessoa portadora de Alzheimer e ela irá manifestar-se caso se lembre dessa situação.
Evite discutir ou confrontar a pessoa corrigindo-a ou contradizendo-a. Aceite a narrativa da pessoa portadora de Alzheimer, as histórias, mesmo que não correspondas às suas e sempre que o tema seja sensível ou conflituoso procure mudar de tema para não se irritarem.
Evite temas que possam perturbar a pessoa portadora de Alzheimer, por exemplo, não fale de entes queridos que já faleceram ou não a confronte com a sua morte, a menos que seja questionado/a diretamente sobre se aquela pessoa já morreu.

Estabeleça uma relação positiva e mantenha um diálogo construtivo, baseado na partilha de experiência vividas.